segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Orações e Cerimônias da Santa Missa - Parte VI

 Pax et bonum!




Após a Coleta, e as outras orações, que são frequentemente adicionadas sobre o nome de Comemorações[1], segue-se a Epístola, que é, quase sempre, retirada das Epístolas de um ou outro dos Apóstolos, ainda que, ocasionalmente, seja de um outro livro das Sagradas Escrituras. O costume de ler apenas uma Epístola na Missa, não corresponde ao número das leituras feitas na Igreja Primitiva; ele é datado de, ao menos, mil anos. Nos primórdios, eram lidas, primeiro, uma Lição do Velho Testamento; após a qual, era seguida por alguma passagem selecionada dos Escritos Apostólicos. No presente, é somente a Epístola que é lida, exceto dos dias das Têmporas e em certas Férias. A prática de ler Lições do Velho Testamento durante a Missa[2], cessou quando o Missal foi promulgado na sua forma atual, o qual contém o todo daquilo que é dito na Missa, pelo Padre e pelo Coro; e, por isso, é chamado Missal Pleno. Um Missal antigo, chamado Sacramentário, não tinha nada, como já dissemos, além das Orações, Prefácios, e o Canon. Todo o resto devia ser acessado no Antifonário, na Bíblia e no Evangeliarium[3]. Perdemos muitas coisas nessa mudança; cada Missa tinha seu próprio Prefácio; ao passo que, agora, o número dessas composições litúrgicas está reduzido ao mínimo. O mesmo método foi observado no Ofício Divino, uma vez que, nesses tempos, não havia Breviários; e cada Coro devia ter um Saltério, um Hinário, a Bíblia, um Passional, que relatava os Atos dos Santos, e um Livro de Homilias, que continha os Sermões dos Santos Padres.

 Por um longo período após isso, o Primeiro Domingo do Advento detinha o privilégio de ter duas Epístolas na Missa. Devia ter uma Epístola, no mínimo. O Ofício desse Domingo era, no entanto, tratado com especial consideração, e manteve, mais fielmente que os outros, os usos antigos. Assim, ainda que uma semidupla[4], os Sufrágios[5] não eram ditos nele; nem, na verdade, durante todo o período até a Epifania. Os Sufrágios não são datados desde antes do 11° século; previamente, não havia nenhum deles.
Assim tudo no Santo Sacrifício procede com ordem: O Padre, primeiramente, expressa os desejos e predições da assembleia dos fieis, - a Santa Igreja fala por ele. Nós devemos estar de ouvidos abertos às palavras do nosso Divino Mestre, no Evangelho; mas nós devemos estar preparados para isso, pela palavra do seu servo; isto foi feito pelo Apóstolo. Então, temos primeiro o Profeta, então o Apóstolo, e, por fim, Nosso Senhor.



Entre a Epístola e o Evangelho, temos o Gradual. Ele consiste no Responsório e seu Versículo. Anteriormente, todo o Responsório era repetido antes e depois do Versículo, da maneira agora usada com os Responsórios breves; O Responsório era excepcionalmente rico em notas. O Gradual é realmente a mais musical das partes de toda a Liturgia; e, já que a execução dele requer grande habilidade, não mais que dois cantores eram permitidos para cantá-lo. Quando iam cantá-lo, eles iam ao Ambão, que era um tipo de púlpito de mármore, localizado na igreja; e foi por causa dos degraus, que levavam ao Ambão, que essa porção do canto ganhou o nome de Gradual[6]; assim como os Salmos Graduais eram aqueles que os judeus costumavam cantar enquanto subiam os degraus do Templo.


O Gradual é seguido pelo Aleluia; - ou, se a época pedir, pelo Trato. O Aleluia é repetido como um Responsório; ele é seguido por um Verso, que tendo sido dito, o Aleluia é cantado uma terceira vez. Este é, por excelência, o canto de louvor a Deus, que merece ter um lugar na Missa. Há algo tão cheio de alegria, e, ao mesmo tempo, tão misterioso nele, que durante épocas penitenciais, - isto é, da Septuagésima até a Páscoa, - ele não deve ser dito.
Durante essas Épocas, ele é substituído pelo Trato. O Trato chama a atenção dos fieis durante o tempo necessário para diversas cerimonias, quando o Diácono, após pedir a bênção do Padre, vai em procissão para o Ambão do Evangelho, e se prepara para proclamar a Palavra de Deus. O Trato é composto, as vezes de um Salmo inteiro, ou quase, - como temos no Primeiro Domingo da Quaresma; mas, geralmente, ele tem apenas alguns Versos. Esses Versos, que são cantados numa rica e característica melodia, seguem-se sem refrão ou repetição: e é por causa desse canto sem pausa, que ele possui o nome de Trato.



Em certas Solenidades, é adicionado ao Aleluia ou o Trato, o que é chamado de Sequência, (Sequentia). Ela foi adicionada ao canto da Missa muito tempo após São Gregório; a adição foi feita por volta do 9° século. Ela recebeu esse nome de Sequência, porque ela originalmente consistia em certas palavras adaptadas às notas que formavam uma sequência à palavra “Aleluia”, que eram chamadas Sequentia, antes mesmo da introdução da Sequência. Também é chamada de Prosa, porque originalmente, ela não tinha semelhança nem com hinos métricos compostos por autores antigos, nem com ritmos cadenciados, que apareceram mais tarde. Era uma verdadeira peça de prosa, que era cantada na maneira que descrevemos, como uma maneira de colocar palavras no neuma[7] do Aleluia. Por partes, no entanto, ela tomou as características de um Hino. - A Sequência foi assim adicionada à solenidade da Liturgia; e, enquanto ela era tocada, os sinos eram tocados, como agora, e o órgão era tocado. Havia uma Sequência para cada Festa, e, portanto, para os Domingos durante o Advento. No Missal Romano de São Pio V, somente quatro dessas Sequências foram mantidas. Essas quatro são o Victimae Paschali, que é o mais antigo de todos, e seguiu como modelo dos restantes; o Veni Sancte Spiritus, o Lauda Sion, e o Dies irae. Mais tarde, foi adicionado o Stabat Mater. O Missal Monástico tem também o Laeta dies, para a Festa de São Bento; é uma composição do século XVI.

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 [1] Quando uma celebração de maior classe impede que outra, de menor classe, seja celebrada, por caírem no mesmo dia, é costume que a Coleta, a Secreta e a Pós-Comunhão do dia de menor classe sejam rezadas. A estas adições chamamos Comemorações. São permitidas até duas Comemorações por dia.

[2] Prática retomada após a promulgação da Forma Ordinária, pelo Servo de Deus, o Papa Paulo VI.

[3] Livro litúrgico que contém as porções das Epístolas e dos Evangelhos lidos na Missa.

[4] Antes das reformas feitas pelo Beato João XXIII(este livro foi escrito antes delas), as festas da Igreja eram divididas(da menor para a maior em importância) em: simplex, semiduplex e duplex.

[5] Os Sufrágios são orações prescritas para determinadas intenções, mais particularmente pelos defuntos.

[6] Gradual deriva do latim gradus, que quer dizer "degrau".

[7] O neuma é um signo da notação musical, que transcreve uma fórmula melódica e rítmica aplicada a uma sílaba.



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